terça-feira

Crónica que estava para se chamar sobre o Inverno, mas que ganhou asas e acabou no Verão. Ou então algo diferente daquilo que te queria dizer...



Sabes, nasci no Verão! Acaso feliz.
Aconteceu.
Nada fiz para o merecer.
Mas gosto do Inverno, tanto como gosto daqueles teus abraços nos dias de frio. O Inverno aconchega-nos. Aproxima o frio que sentimos do calor de que precisamos, e transforma-nos em gente naquele espaço em que a tua pele é apenas mais da minha, e minha não consegue viver fora da tua. É no Invernos que as árvores se parecem com mulheres. Despem-se das cores que pensamos ver, e ficam ali, elegantes, de braços esticados até ao céu, sombras que sabem onde nascem, mas que de raiva, ou orgulho, ou força... ou coragem, não sabem caír; Como tu, que me agarras a esperança a uma manhã qualquer. Hoje. Amanhã. Para sempre...
Pertenço a essa luz que trazes em ti. É nela que quero nascer, todas as manhãs que o vento sobra na janela e me leva para longe.

Mãe, há quanto tempo não te deixo entrar? Há quanto tempo não encostas esses olhos azuis que com amor me desarmam, e libertam, e fazem de mim maior do que aquilo que alguma vez poderei ser.
Há quanto tempo não te deixo repousar no meu coração, e te deixo sentir o que lá tenho dentro? Há quanto tempo não te digo o quanto te amo?

Parece que foi ontem.
Lembras-te?
Era Verão e num berro te disse que eras tudo. Nesse choro perdi a força que me entregas todos os dias em que me passas a mão pela cara como se me protegesses dos invernos frios de que tanto gosto.

Ou aquela vez que choraste por não conseguir segurar as minhas lágrimas.

Por mais sombrio que eu seja.
Por mais atracção aos dias curtos e escuros que eu possa ter, serás sempre o meu dia mais largo. Serás sempre o meu Verão de um metro e meio de altura.
Eu gosto do Inverno, porque tenho os teus olhos azuis, e o teu cabelo cor de seara madura a dar-me o calor que preciso.

Um dia terei coragem, e em vez de escrever o quanto te amo, te o diga.
Um dia terei a coragem de peceber que o meu peito é pequeno demais para perceber, que é por te ter lá dentro que sou maior.
Um dia não terei o medo de te dizer o que sinto por ti.

Talvez um dia terei a tua coragem...
Obrigado Mãe por me dares a
vontade de voltar a escrever!

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